
Alma rasgada de vexame É uma sensação dúbia, essa que eu sinto Enquanto ajunto os versos e me vou Costurando: A minha alma rasgada de poeta. Sensação de pesar e êxtase, Fundidas a um só tempo e Nessa mesma alma rasgada. Pensar numa fama futura Faz surgir a ideia mediada Dessa morte tão presente. A boa poesia é a dos poetas mortos, Do espírito, que retorna à história, Na potência espantosa dos versos e Evocados do caos de uma alma rasgada. Eis a última revisão da poesia Adornada pela vida que se foi. É chegada a fama e o sucesso Ao seio do “homem-para-além-do-humano”. O poeta está morto! E, rasgada de vexame, a sua alma, Nas páginas do livro e do consumo. É morto o poeta! E o adubo que ainda resta Fará renascer Essa indestrutível fera do mito.