Considerações
críticas sobre filosofia da religião e a formação acadêmica brasileira
Por
volta do ano de 1999 eu empreendia estudos sobre F.W. Nietzsche e o
cristianismo no Seminário Batista do Norte do Brasil em Pernambuco, na cidade
do Recife. Naquela ocasião pude debater sobre o problema religioso de forma
muito salutar e edificante, tanto perspectivas filosóficas como, também,
abordagens teológicas acerca desta temática muito relevante ainda em nossa época
atual marcada pelos milagres da tecno-ciência. Como mestres e interlocutores
dispunha da atenção doutores no assunto, dentre muitos, destaco nomes como
Ágabo Borges, Paulo Siepierski, Merval Rosa e João Ferreira Santos. A este
último, apresento-o de forma mais destacada por ter sido, o ministrante daquela
disciplina denominada Filosofia da
Religião e quem, posteriormente, me orientou na conclusão de uma monografia
intitulada Ateísmo Niilista e Telogia da
Morte de Deus na qual eu tentei apresentar a crítica de F.W. Nietzsche à
fundamentação cristã da moralidade e sua relação com o movimento
norte-americano dos teólogos radicais. Do contato com esses estudiosos absorvi
muitas diretrizes para estudos e ampliação de conhecimentos no campo da
metafísica. Tentarei apresentar alguns destes elementos, doravante inspirado e agradecido
aos muitos mestres de que eu dispus para a conclusão do meu primeiro
bacharelado.
Neste
artigo objetivamos apresentar elementos para um olhar com discernimento sobre
filosofia e religião no meio acadêmico. Partiremos de uma metodologia adaptada
de estudos já efetivados e de modo a fazer transparecer tacitamente, ao logo do
texto, a questão da finitude humana
de uma perspectiva filosófica, a transcendência
imanente da noção de Bem e da noção de Mal. Neste sentido destacamos inicialmente
que a filosofia, em sentido mais amplo, pode ser entendida como crítica dos
conhecimentos como, também, das culturas e práticas humanas. Em um sentido mais
específico, temos o termo filosofia da religião
cuja tarefa principal deve ser analisar o fenômeno religioso amparada pelos
“instrumentos” da filosofia de modo a propor uma dialógica da fé com a razão,
desembocando em uma dialética na qual a fé esteja ilustrada pela razão, e a
razão seja retroalimentada pela fé. O sentido natural deste movimento sistêmico
deve ser a harmonização do resultado das experiências humanas. A isto podemos
nos referir com a noção conceitual de aprendizagem.
Como os aspectos empíricos e da sensibilidade não ficam postos de lado, temos
que admitir que fenomenologia da religião
é um termo, no mínimo, em relação de sinonímia com filosofia da religião, muito embora este último termo por si mesmo
já parece indicar uma predileção pelo aspecto mais abstrato e especulativo, em
detrimento daquele aspecto mais diretamente experienciável que uma
fenomenologia pretende sugerir. Isto pode soar um tanto absurdo, mas, o fato de
Hegel haver escrito uma Fenomenologia do
Espírito nos serve aqui de amparo teórico.
Analisar
a forma como o fato religioso acontece compete à fenomenologia. Este termo foi talhado por Lambert no sec. XVIII e
utilizado por Hegel para designar o que denominou de ciência da experiência da
consciência.
Importa
considerar, ainda, que um procedimento eminentemente especulativo
caracterizaria uma teologia filosófica;
já o termo filosofia da religião
enfocaria o aspecto crítico daquilo que se teoriza acerca do fenômeno
religioso. (O termo fé utilizado aqui deverá ser compreendido menos em relação
ao grego pistis e mais em direção ao
hebraico emuná Existem três palavras que
eu acho especiais para a Filosofia. ‘alethéia’, a segunda vem do latim
‘veritas’ e a terceira vem do hebraico ‘emunah’. Todas elas significam o que
nós chamaríamos de verdade. A primeira, do grego, significa descobrimento. Ora,
quando os gregos mencionavam esta palavra alethéia eles queriam chegar a uma
verdade, mas uma verdade descoberta pela razão. Já a palavra de origem latina,
veritas, também significa verdade, mas um tipo de verdade assumido pelos fatos,
pela comprovação dos fenômenos. A terceira, emunah, que também significaria
verdade, porém a busca da verdade pela confiança.
Verdade, a emunah, pode não ser tão
importante para a ciência, mas é essencial para a busca de amigos. Quando
escolhemos um amigo, inevitavelmente, contamos com a confiança e a verdade Como
só se confia naquilo que se acha de verdadeiro, esta atitude não deixaria de
ter este significado: emunah.
Emunah
é o estado espiritual associada com a experiência interna do mais alto dos três
"cabeças" do kether, o Reisha d'Ityada lo ("cabeça
desconhecida"). Emunah é a
conexão essencial, ou "aliança" entre o povo de Israel e Deus. Na
Chassidut se diz que a "fé simples" (emunah Peshutah) do "judeu
simples" (Yehudi pashut) o liga à "unidade (absoluto) simples"
(Achdut Peshutah) de Atzmut de Deus (Essencia, acima da revelação de Sua luz
infinita, ou sof en). Cada alma judia herda sua fé dos patriarcas e matriarcas
do povo judeu em geral, e de Abraão, o "primeiro crente", em
particular. Como um traço herdado, emunah está sempre presente em cada alma
judaica, embora não necessariamente consciente. É a função espiritual de Moisés
(presente em cada geração) para sustentar e reforçar a consciência da fé de
Israel, e, portanto, a identidade judaica, através do alimento da Torá ou sabedoria.
Pelo mérito de Moisés, o maná foi dado a Israel. Sua primeira aparição na Torá,
soletra-se "man hu", posteriormente permutada para a palavra
"emunah". Confiança e
prontidão inata plenamente dedicada sua vida ao serviço de Deus e a sacrificar
sua vida por amor de Deus como expressão essencial da sua emunah em Deus. http://www.inner.org/powers/powemuna.htm
A
filosofia da religião procura
esclarecer a possibilidade e a essência formal da religião na existência
humana. Ela se constituiria, portanto, em uma reflexão acerca dos fenômenos
religiosos realizada com recursos estritamente racionais. (In Zilles, 1991, p.
195.)
A
filosofia grega antiga pensou a totalidade real como kósmos e a presença do archón
divino no mundo foi descrita por meio de concepções diversas, a saber: o
divino concebido como apeíron ou
fundamento originário ilimitado do mundo. Para Parmênides, o divino foi
concebido como o ser imutável. Em Heráclito o divino estaria em fluxo (pantá rei) a razão ou logos do mundo. Em Anaxágoras, o divino
foi concebido como a mente cósmica e o princípio do movimento. Em Platão, o
divino é o Demiurgo ou Sumo Bem criador da ordem cósmica. Em
Aristóteles o divino foi concebido como a causa do movimento, o Motor Imóvel. Este primeiro motor assume
uma conotação ontológica de ser enquanto ser, isto em termos ontológicos, e, na
cosmologia, a conotação é a de ser como totalidade. Por fim, na Metafísica, a conotação que se impõe é a
de o Ser Supremo, que pode ser
identificado com o mesmo sentido teológico de Deus.
Em
filosofia, o problema religioso questiona acerca da essência ontológica do
homem para, disto, aproximar-se do sentido ôntico
deste fenômeno. Desse modo, quando nos referimos à religião não devemos
descartar a essência do homem expressa, muitas vezes, em atos litúrgicos e
rituais de espiritualidade e cultura do espírito, jamais desvencilhada do
aspecto estético e artístico que as acompanham. Pelo termo religião, o homem
diante de si, diante do mundo e diante do mysterium
tremendum et fascinosum deve estar subentendido, como se referiu Rudolf
Otto, tratando de uma dimensão especial da existência humana. Portanto, a
experiência religiosa despertaria no homem um tipo de espanto ao defrontar-se
com tão profundo enigma, isto é, mistério, por tratar-se de algo que supera uma
abordagem comum da realidade em que vivemos. Do tremendum (terrível ou temível) podemos entender um tipo de
sentimento de sublimidade mediante tudo o que é imenso e que escapa ao controle
do frágil animal humano. Isto é também fascinante, similarmente ao que ocorre
ao artista diante do belo, isto é, diante de algo que se apresenta como que uma
última razão de ser.
Para
Paul Tillich, o tema da filosofia da religião é a própria religião onde a
filosofia encontra um tema que se recusa a converter-se em tema filosófico e
cuja fonte é uma revelação do divino que almeja à redenção do ser humano. Desse
modo, a filosofia da religião deveria
ser substituída por uma teologia do
conhecimento. No livro Filosofia da
religião (1973), ao tratar da essência da religião, Tillich afirmou que
toda ação espiritual é uma ação significativa, pois o significado é característica
comum que se constitui a unidade última da esfera teórica e prática do
espírito, que norteia as estruturas científicas, estéticas, legais e sociais.
Em
toda consciência de significado, há
três elementos que devem ser considerados: a
consciência da interrogação do significado: pela qual cada significado
separado subsiste e sem o qual não seria significado; a consciência da significação última da inter-relação do significado
e, través desta, a marca significativa de cada significado particular, isto é,
a consciência de um significado incondicional que está presente em cada
significado particular; a exigência de
realizar um significado incondicional, que surge como exigência básica a
que deve se submeter cada significado particular. Quando a consciência se
dirige às formas particulares de significado, coloca-nos diante da cultura. Quando a consciência se dirige
às formas incondicionadas de significado, coloca-nos diante da religião. Assim, a essência da cultura
consiste na orientação do espírito até as formas condicionadas. A religião é a
orientação do espírito até o significado incondicionado, em que o espírito se
desprende da autonomia para ater-se à teonomia. Na contemporaneidade, o
misticismo vem sendo classificado como um dos tipos básicos de religião. Ele
possui um caráter duplo e paradoxal no qual ora serve de fundamento, ora de
abismo para todo conhecimento; servindo ainda de elemento essencial a toda
religião que se firma teoricamente no mito
e rejeita o postulado da revelação. Além disso, o misticismo evolui na
contra-corrente da religião profética, fundada na análise crítica dos poderes
constituídos e para a qual o mito
assume uma tríplice tendência característica, a saber: o mito do ser, o mito da história e
o mito da ideia absoluta, que
se expressa a consumação final de todas as coisas. (Cf. TILLICH, op. cit.)
A
revelação, na qual a fé sempre esbarra, pela expressão da signifcação
incondicional, através das formas condicionadas, constitui-se sempre um
desaifio à mente e à razão humana que toma a verdade como meta e não como
produto final acabado.
Três
perguntas deveriam ser respondidas pela filosofia da religião no entender de
Tillich: 1. Qual a relação entre a filosofia da religião e a ciência empírica
da religião? 2. Qual é o problema da filosofia
da religião, no sistema das ciências naturais normativas, especialmente na
relação entre a filosofia geral e
teologia natural? 3. Qual a relação entre filosofia da religião e a metafísica, no sentido aristotélico e
cristão de abordagem desse termo.
Dessa
consideração do teólogo e filósofo alemão contemporâneo, podemos entender que a
filosofia da religião seria um tipo
de ciência cultural e normativa capaz de estabelecer, sintética e
criativamente, o valor indiscutível em matéria de religião. O material oriundo
da história, da psicologia e da sociologia da religião seria aplicado nessa
construção normativa, uma vez que as ciências culturais se apresentam firmadas
no tripé: filosofia, história da cultura e sistemática (Que se fundamenta em um
sistema, isto é, reunião de princípios coordenados de modo a formar uma
doutrina e combinação de partes que, coordenadas, concorrem para certo fim). E,
ainda, que o método das ciências empíricas aborda a religião como objeto de
consideração histórica e psico-sociológica, entendendo que um conceito de
essência com referência à noção de espírito não deve ser captado a partir da
abstração de fenômenos individuais, tampouco mediante a consideração de sua
origem e formação em um objeto particular na sociedade, nem na totalidade da
história.
Ao
considerarmos que a análise crítica das funções significativas das categorias
religiosas compete à filosofia da religião;
poderemos entender que o método fenomenológico é o mais eficaz por sua
capacidade de leitura crítica do passado em conexão atenta com os fenômenos
contemporâneos. Competiria à filosofia da
religião ligar o passado ao presente considerando a influência da religião
dialógica e dialética do binômio sociedade/religião.
Com
Nicolau de Cusa surgiu a ideia de um mundo infinito hierarquicamente superior
ao mundo finito, na mesma medida em que o imperfeito se submete ao perfeito e o
homem se submete a Deus. Muito tempo depois, os filósofos existencialistas
entenderam que a finitude representa a contingência radical do ser humano
escravo do medo e da angústia e envolto no absurdo e no nonsense que o viver neste planeta encerram. Destarte, finitude e
natureza humana se irmanam de um modo praticamente indissociável aqui.
A
angústia é a inquietação humana de ser e, diante dela, surge a finitude. Ambas
sugerem ao homem fugir de si mesmo criando aparatos artísticos e religiosos.
Neste ponto podemos definir religião como um conjunto cultural articulável em
um todo sistêmico de crenças em deuses ou em um Deus único como ente e
entidades quase sempre “sobrenaturais” e regidos por códigos legais e rituais
pelos quais a ordem natural, a ordem social e a ordem “sobrenatural” mantêm um
tipo de “comércio”. Toda religião pressupõe a posse de uma verdade inamovível,
contudo, tal verdade, em tese, deve ser independente de imperativos lógicos e
racionais. Considerando isto, percebemos que o antigo confronto filosófico
entre o mundo epistêmico e o mundo das opiniões e do simulacro não fica
afastado deste debate. (Epistéme
assume algumas vezes o sinônimo de techne
en Rp. 340d, 350a,. 43aCd, 522b; Fileb. lgd, 56b; Teet. 146C, por exemplo. Doxa
(δόξα) que significa crença ou senso comum, opinião popular e de onde se
originaram as palavras modernas ortodoxo e heterodoxo.) Filosofia da religião
seria uma procura pela verdade da religião; em contrapartida a religião
pretende possuir já a verdade como tipo de ortodoxia.
O
homem religioso assume suas verdades com base em confissões e atos de fé; já o
filósofo da religião busca demonstrações racionais que embasem as opiniões
piedosas e devotas do senso comum. Como exemplo disto, desde os escolásticos
medievais passando por Descartes e Kant essas “provas da existência de Deus”
são propostas com forte amparo da retórica, silogismos e até mesmo de modelos
matemáticos.
A
partir da modernidade filosófica passou a analisar a verdade religiosa enquanto
fenômeno social e a partir das análises críticas dos pressupostos ideológicos,
por fim analisando as ilusões humanas oriundas das vivências religiosas em
geral. Desse modo, a sociologia, as ciências políticas e a psicanálise são
aproveitadas como aporte para o desenvolvimento do discurso filosófico.
São
famosas as palavras de Feuerbach ao afirmar que a consciência de Deus é
autoconsciência e que o conhecimento de Deus é autoconhecimento. Elas sugerem
uma redução de toda possibilidade de interpretação do mundo pelo viés religioso
e teológico para o âmbito exclusivamente antropológico. Partindo disto pode-se
vislumbrar um deslocamento das disciplinas teológicas e das demais modalidades
de estudos religiosos para o campo da antropologia filosófica ou da filosofia
como reflexão amplamente concentrada no problema antropológico.
Aquilo
que em linguagem religiosa se expressa como sendo revelação do tesouro divino
seria, na verdade, uma revelação dos tesouros ocultos do homem, de seus
elementos inconscientes e racionais mais profundos, a confissão de seus
sentimentos mais íntimos, de seus amores secretos.
Em
Ludwig Feuerbach a religião essencial é
a que parte da suposta necessidade de ligação da criatura com o criador, a religião formal é a que representamos
historicamente e por meio das mais variadas expressões, a religião institucional fica caracterizada pela multiplicidade de
bandeiras denominacionais instituídas e espalhadas por todo o planeta; por fim,
a religião instrumental caracteriza-se
pela predominância da defesa dos interesses de classes específicas e ou de
indivíduos, perdendo, assim, sua força e intenção de universalidade e verdade.
Feuerbach
foi integrante da chamada esquerda hegeliana e rompeu com Hegel em 1837, pois
não reconhecia no movimento da história, a razão
conforme os ensinos de se mestre. Em sua crítica da filosofia hegeliana
procurou pelo verdadeiro conteúdo desta filosofia. Enquanto Hegel colocava no
cume de cada processo dialético a ideia
absoluta, Feuerbach denunciava o teor teológico deste conceito colocando o
homem no lugar de Deus. Para ele a religião a religião é uma alienação do
homem, consistindo na alienação a ídolos criados pela arte humana ao projetar
seus anseios em detrimento da realização dos mesmos, isto é, o homem cria os
deuses a sua imagem e semelhança e transfere para o plano celeste seus ideais de
justiça que não se realizam durante a vida terrena. É desse modo que a religião
se apresenta como uma revelação escondida das propriedades do homem e como
confissão de seus mais íntimos pensamentos manifestando, assim, seus segredos
de amor diante do mundo.
Feuerbach recebeu a adesão de Karl Marx, seu colega de
estudos grandemente influenciado por esta crítica do hegelianismo e pela
proposição de que a essência da religião é antropocêntrica e não teocêntrica.
As religiões em geral versam sobre a morte e a imortalidade, estes são temas
humanos e não divinos. Os homens criam seus deuses como respostas provisórias
as suas mais inquietantes perguntas. (In Ludwig Feuerbach; A essência do cristianismo. Tradução de José da Silva Brandão.
Campinas, São Paulo: 1989, 296 p.).
Enquanto
a sociologia da religião estuda os
influxos recíprocos entre as formas religiosas e as estruturas sociais, a psicologia da religião estuda as
relações do indivíduo diante do fato religioso, a filosofia da religião estuda o fato religioso nos seus conteúdos
racionais que assumem a forma final de ideologia religiosa.
Desde
a quebra da autoridade espiritual religiosa que se fortaleceu na Europa
medieval, por força da imposição da razão como norma suprema na transição para
a modernidade, a ética religiosa, fundada na mente iludida, na má fé e no jogo
de interesse precisou ser substituída por uma moralidade consciente, secular e
social capaz de respeitar a dignidade de ser
racional da pessoa humana. Rompeu-se ainda a força do espírito pragmatista
que propunha uma religião meramente utilitária, amparada por uma profissão de
fé genuinamente natural, mas com papel puramente funcional. Neste caso, o
ativismo religioso se constituiu na marca registrada da expressão de fé autentica,
do ser piedoso. A ética, a moral, a dignidade pessoal, a honestidade a verdade,
a justiça, o amor; tudo isso ficou relegado a um plano secundário. Destarte,
ser religioso passou a se constituir em um exercício de manutenção e
salvaguarda das aparências, ainda que, no discurso, se proponha veneração
incondicional a um Deus onisciente. No fundo o velho modo de ser oriundo do
farisaísmo ainda persiste principalmente no ocidente cristão.
Sabemos
que a experiência religiosa
fundamental é individual embora as manifestações religiosas tendam a expressões
grupais. O termo experiência, tanto pode designar verificação como, também
vivência. Da verificação, nasce o conhecimento exterior, particular,
transmissível teoricamente. Já o conhecimento pessoal, total e intransferível,
nasce da vivência. Lembremos que, a abordagem peripatética da experiência a entendeu como sendo não isolada, mas,
sempre resultante das sensações que se fixam em uma idéia central inicial,
posteriormente esquematizada em uma abstração. O conhecimento resultante deste
modelo teórico é puramente estrutural e abstrato como no caso da matemática. Desse
modo, Aristóteles teria entendido que a essência das coisas consistiria em
notas características emitidas pelo homem, espectador do cosmos.
No
formalismo kantiano a autêntica experiência seria uma percepção captada pelas
categorias a priori da razão, após a
síntese do entendimento mediadora entre o sujeito e o objeto da experiência.
Disto resulta um tipo de conhecimento subjetivo e restrito à realidade
empírica, como ocorre no caso da física.
A
experiência considerada como um fenômeno
psicológico e que envolve não só a faculdade intelectiva do homem, mas,
também, o seu modo de sentir o mundo, foi teorizada por Friedrich
Schleiermacher. Contudo, tal tipo de experiência ao captar o significado das
coisas tende a resultar em um conhecimento extremamente subjetivo e
“contaminado” por reações emotivas, portanto, muito pouco objetivo.
Em
Edmund Husserl, a experiência é um encontro com uma realidade objetiva e que se
realiza no domínio das ideias, por meio da fenomenologia
das coisas. Disto resultaria um conhecimento pessoal e existencial do qual
poderíamos perceber não só o fenômeno exterior, como também o seu significado.
Para a fenomenologia de Husserl, o
fundamento das coisas é o seu significado ou o sentido que alas assumem diante
do homem, bem como o modo de relação destas com a consciência humana.
Os
quatro exemplos de experiência apresentados nos últimos parágrafos acima servem
para podermos entender que, no campo da religião, a vida é compreendida como o valor
absoluto, não somente a vida humana, mas a alma, comum ao homem e aos animais.
A isto denominamos animismo.
No
hinduísmo, por exemplo, Brahma é entendido como a realidade absoluta. Ao
concebê-lo desse modo o hinduísmo estabelece uma ligação da divindade com as
estruturas mentais, culturais e sociais.
O
nirvana Budista é um tipo de estado
final, onde se verificaria a extinção completa da dor, do sofrimento e da
causalidade. Teoricamente, toda a possibilidade fenomênica ficaria, assim,
extinta.
No
cristianismo, o amor é apresentado como integração definitiva do divino no
humano, do humano no divino e do humano no humano, através do absoluto pessoal e do absoluto comunional. Acerca disto, Hegel
tratou detalhadamente em sua obra...
REFERÊNCIAS:
ELIADE,
Mircea. Aspectos do mito. Lisboa, Edições 70, 1989.
WEBER,
M. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: E.
M.
Guazzeli, 1994.
OTTO,
R. O Sagrado, Lisboa: Edições 70, 1992.
TILLICH,
Paul. Teologia sistemática. São Leopoldo, Sinodal, 2000.
___________.
A coragem de ser. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976.
___________.
Dinâmica da fé. São Leopoldo, Sinodal, 2001.
Comentários
Postar um comentário