Estudando A Crítica Poetizada (Poetized Criticism / Poetische Musikkritik) de Marcelo Santos
Ao sugerir que o Êthos Mysthétikos é: "A razão de ser muito espontâneo no fazer que instrui e antecipa a experiência, e daquilo que se faz com naturalidade". Marcelo Santos, o autor da obra A Crítica Poetizada (Poetized Criticism/ Poetische Musikkritik), após admitir por postulado que a intuição estética é o fundamento da significação, nos convida a considerar a possibilidade de outras razões em paralelo com a razão convencional tridimensional da filosofia tradicional em geral. Por isso mesmo, a sua obra se utiliza de termos como "pentadimensionalidade mysthétika" e Metaquantum / Metaquântica.
Mas, sobretudo devemos destacar aqui neste curtíssimo comentário apenas o fundamental:
No grego antigo, êthos (ἦθος) e éthos (ἔθος) são duas grafias da mesma palavra que têm significados diferentes.
Êthos (ἦθος)
Significa o habitat, o lugar, a morada típica de uma espécie animal
É a raiz semântica que origina a significação do ethos como costume, estilo de vida e ação
É a forma usual de agir e ser, o caráter, a "disposição nobre"
Éthos (ἔθος)
Significa os hábitos, os costumes, o modo de proceder característico de um animal, mas também de um homem
Refere-se ao comportamento que resulta de um constante repetir dos mesmos atos. Repetição mecânica sem liberdade criativa relevante, embora expresse uma constância no agir contraposta ao mero impulso do desejo
Denota uma orientação habitual para agir de certa maneira, que pode culminar em adestramento idiotizador.
A palavra ética deriva do termo ethos, presente no idioma grego antigo. A palavra ethikos (ἠθικός) deriva de ethos e significa "moralidade, demostrando caráter moral.
Não preciso aprofundar mais, para tentar justificar a opção de Santos pelo uso da expressão Êthos, em detrimento de termo mais comum Éthos.
Mesmo porque o homem jamais deixou de ser entendido como animal natural (senão pelos interesses dos doutrinadores políticos e religiosos, sempre temerosos das manifestações espontâneas e naturais desse Êthos).
Como sabemos, o termo zoon politikon é uma expressão grega que significa "animal político". Foi desenvolvida pelo filósofo Aristóteles.
O conceito de zoon politikon significa que o ser humano é naturalmente político, ou seja, tem a capacidade de viver em sociedade e participar da vida política.
Aristóteles acreditava que a vida política é essencial para o desenvolvimento pleno das potencialidades humanas. Para ele, o homem só pode encontrar o seu maior bem e ser plenamente homem na comunidade política.
Algumas características do conceito de zoon politikon são:
Os seres humanos são seres sociais por natureza.
Então, Santos entende que, se os seres humanos são seres morais e éticos, isso somente pode ocorrer segundo o Êthos Mysthétikos, jamais segundo as crenças limitadoras, impostas pela politicagem do egoísmo e da mesquinhez gananciosas, assim como também das castrações e catequeses forçadas pelos interesses igualmente egoístas das lideranças religiosas (Éthos).
Pelo Êthos Mysthétikos e sua consequentemente onto-cosmologia, vemos que os seres humanos são capazes de tomar decisões que afetam não apenas a si mesmos, mas também a comunidade em que vivem. Algo já postulado por Aristóteles, mas o Êthos Mysthétikos não se resume somente a isso.
Os seres humanos possuem uma capacidade para o logos, possuem discurso, argumento e raciocínio próprios por natureza.
Os seres humanos conseguem comunicar-se com o raciocínio de outro ser humano.
Como podemos notar, Santos parece sugerir que Êthos e Eros metem medo nas religiões e na políticas de tentativa de dominação da natureza humana, embasadas numa simplificação interesseira do Éthos tradicional!
Mas foi Friedrich Nietzsche, o filósofo alemão, quem disse que o cristianismo envenenou a Eros porque, em sua opinião, o cristianismo reprimiu e distorceu a expressão natural da sexualidade humana, que ele chamou de Eros.
Para Nietzsche, Eros era uma força vital e criativa que deveria ser celebrada e expressa livremente, mas o cristianismo, com sua ênfase na castidade, na abstinência e na repressão da sexualidade, "envenenou" essa força, tornando-a algo pecaminoso e vergonhoso. Algo que Santos entende como a matriz da necropolítica e da necroeconomia, ambas irmanadas aos interesses de controle religioso das liberdades humanas.
Nietzsche argumentou que essa repressão da sexualidade humana levou a uma forma de "negação da vida" e a uma perda da vitalidade e da criatividade humanas. Ele via o cristianismo como uma força que sufocava a expressão natural da humanidade e que precisava ser superada para que a humanidade pudesse se libertar e alcançar sua verdadeira potencialidade.
Essa é uma visão muito resumida da crítica de Nietzsche ao cristianismo e sua visão de Eros, mas espero que tenha dado uma ideia geral, ilustrando e esclarecendo alguns elementos importantes do Êthos Mysthétikos de Marcelo Santos.

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